domingo, 9 de março de 2014

O vampirismo e as Religiões

O
VAMPIRISMO
E AS RELIGIÕES

Nesta tópico tentaremos sinteticamente descrever a relação das religiões com o mito e a prática vampírica.

Cabe salientar que o mito do vampiro é inseparável das religiões e manifestações religiosas, místicas e folclóricas dos povos em que ocorre, e todos entrelaçados por complexas redes de significados e práticas rituais de vários tipos, especialmente de defesa contra os mesmos.

Logo, embora não possamos falar que o vampirismo seja em tais povos uma religião em si, é impossível separá-lo das religiões locais da África, Ásia, Europa, Américas etc, e a toda carga de significados sobrenaturais e sagrados associados às mesmas. O mito do vampiro "dialoga" intimamente com todos os demais Deuses, Deusas, Deus, isto quando ele em si mesmo não é um Deus, Deusa ou entidade sobrenatural e divina.

Assim, e sempre lembrando as ressalvas que a antropologia faz ao uso indiscriminado do termo "religião" como explicamos em "VAMPIRISMO É RELIGIÃO?", podemos afirmar que o mito do vampírico e suas práticas místicas, de magia etc, fazem parte do conjunto de mitos e crenças religiosas de um povo, quer através de rituais negativos (em que a pessoa tenta se proteger do vampiro apelando a seus Deuses etc), quer através de rituais positivos (geralmente rituais propiciatórios, em que se tenta entrar em contato e obter favores de tais entidades, como entre os antigos Astecas e na Índia atual). Não há como separar seu mito e práticas das religiões locais, não pelo menos dos mitos que nos chegaram e que a bibliografia especializada e etnografia registraram.

Outro ponto importante é distinguir magia de religião ao mesmo tempo que ver suas semelhanças. Este ponto é importante pois o vampirismo é de uma forma geral, em quase todos os mitos, associado à práticas místicas de magia, feitiçaria, yoga etc. Normalmente se aceita em antropologia que magia é um procedimento mais técnico, em que o mago tem uma postura dominadora sobre as entidades, pessoas desencarnadas anjos, demônios, Deuses e energias sem forma do mundo espiritual. Já o religioso teria uma conduta mais humilde diante dos Deuses, aos quais evocaria e cultuaria através de incensos, velas, orações, oferendas etc a fim de obter suas ajudas em assuntos diversos. No entanto esta separação entre magia e religião é altamente artificial visando mais fins didáticos que expressar a realidade empírica dos dados. Muitas são as exceções a esta separação. Assim o mago praticante de goécia, um tipo de magia em que se evoca os 72 "demônios" descritos nas "Clavículas de Salomão", um dos textos de magia mais antigos da Europa Cristã, embora a atuação do mago seja de domínio sobre tais entidades, ele o faz em nome do Deus Cristão, de seus santos e Obra, em uma atitude altamente religiosa e humilde.

Em um outro exemplo, quando lemos o texto ritual egípcio para seus mortos, o "Pert em Hru" ou "Saída para a Luz" (conhecido como "O Livro dos Mortos"), percebe-se que a relação dos sacerdotes e praticantes deste ritual é de humildade religiosa e ao mesmo tempo de imensa autoridade sobre os Deuses, a ponto de que o oficiante do ritual diz: Eu sou o Deus tal, sou Horus, sou Thoth, Sou Isis, etc.

É impossível separar o mito do vampiro das religiões dentro das quais ocorre e é parte integrante. Algumas vezes tem papel de destaque dentro da religião local (como na India, havendo até expressões divinas e associadas ao panteão divino e ao "bem" em sentido religioso da cultura local (o conceito de "bem" e "mal" pode variar de cultura para cultura, e de época para época), como o é a Deusa Kali que apresenta a prática de vampirismo quer em seu mito, quer na forma como é cultuada), noutras tem papel muito secundário e como inimigo de Deus e do "bem" em sentido religioso da cultura local, e apenas dialoga com a religião oficial (como no cristianismo que o identifica a Lúcifer e Satan), em outras tem papel semi oculto e iniciático, como em todo o culto dos mortos vivos (múmias) no Antigo Egito e a sobrevivência da alma no túmulo e no além.

Mas em todos os casos, é um fenômeno religioso, sagrado
e associado ao que na Europa se denominará
de Ciências Ocultas.

sábado, 8 de março de 2014

Morcego-Vampiro

Morcegos-vampiros[editar | editar código-fonte]

Desmodus rotundus, o morcego-vampiro comum
Embora muitas culturas tenham lendas sobre os morcegos-vampiros, apenas recentemente estes se tornaram parte integrante das tradições populares sobre vampiros, quando foram descobertos na América do Sul continental no século XVI.145 Embora não existam morcegos vampiros na Europa, os morcegos nocturnos e corujas há muito que são associados com presságios e o sobrenatural, embora isso se deva fundamentalmente aos seus hábitos nocturnos,145 146 e na tradição heráldica inglesa moderna o morcego significa "estar ciente dos poderes das trevas e do caos".147
Todas as três espécies de verdadeiros morcegos-vampiros são endémicas da América Latina, e não há nenhuma evidência que sugira que alguma vez tenham tido parentes no Velho Mundo tanto quanto a memória humana conseguiu registar. Por este motivo é impossível que que o vampiro da tradição popular represente uma versão distorcida ou memória longínqua do morcego-vampiro. Estes morcegos foram nomeados deste modo devido ao vampiro folclórico, e não o inverso; o Oxford English Dictionary regista a sua presença na tradição popular em Inglaterra a partir de 1734, muito antes da presença zoológica, que apenas ocorreu em 1774. Embora a dentada do morcego-vampiro não seja geralmente perigosa para o ser humano, estes morcegos têm sido conhecidos por se alimentarem activamente de sangue humano, e presas de grande porte como gado, deixando muitas vezes a sua imagem de marca na pele da vítima, a marca de dentada de dois dentes afiados.145
Um artigo sobre vampiros datado de 1842 e publicado no semanário português Archivo Popular estabelece um paralelo entre o vampiro da tradição eslava e as lendas sobre ataques de morcegos-vampiros na América meridional - que seriam em grande quantidade, chegando a ser fatais - divulgadas por Pedro MártirLa Condamine e outros, considerando ambas invenções fantasiosas e dignas de pouco crédito.148
Drácula da literatura transforma-se em morcego muitas vezes no romance, e os próprios morcegos-vampiros são aí mencionados por duas vezes. A produção teatral de 1927 Dracula seguiu os passos do romance ao representar a transformação de Drácula em morcego, assim como o filme do mesmo nome, onde Béla Lugosi também se transforma em morcego.145 A cena da transformação em morcego seria novamente usada por Lon Chaney Jr. no filme de 1943 Son of Dracula.149

Era moderna

Era moderna[editar | editar código-fonte]

Apesar da descrença geral em entidades vampíricas, têm sido registados avistamentos ocasionais de vampiros. De facto, ainda existem associações dedicadas à caça ao vampiro, embora tenham sido formadas largamente por motivos sociais.29
No início de 1970, a imprensa local propagou rumores sobre um vampiro que assombrava o cemitério londrino de Highgate. Caçadores de vampiros amadores afluíram em largos números ao cemitério, e foram escritos muitos livros sobre o caso, notavelmente por Sean Manchester, um habitante local que esteve entre os primeiros a sugerir a existência do "Vampiro de Highgate", e que mais tarde afirmou ter exorcizado e destruído todo um ninho de vampiros naquela área.101 Em Janeiro de 2005 circularam rumores sobre um atacante que teria mordido uma série de pessoas em Birmingham, na Inglaterra, alimentando receios sobre um vampiro a vaguear pelas ruas. No entanto, a polícia local afirmou que tais crimes nunca foram reportados, e que o caso parece não ser mais que uma lenda urbana.102
No Outono de 1977 foi registado em Belém do Pará, no Brasil, o que foi descrito como uma estranha praga de vampirismo, envolvendo um "vampiro luminoso" que teria ocasionado a morte de algumas pessoas por perda de sangue, e ferimentos em várias outras.103
Um dos mais notáveis casos de entidades vampíricas da era moderna, o chupacabra de Porto Rico e do México, é descrito como sendo uma criatura que se alimenta da carne e bebe o sangue de animais domésticos, levando a que alguns o considerem um tipo de vampiro. A "histeria do chupacabra" tem sido frequentemente associada a profundas crises económicas e políticas, em particular em meados dos anos 1990.104
Em Moçambique, na região de Quelimane, alegados incidentes de vampirismo têm levado a que parte da população saia das suas casas e passe a noite em edifícios públicos por medo dos "chupadores de sangue". Em 1996 a Rádio Moçambique noticiou o estranho caso de um cadáver que levantou-se do túmulo e percorreu as ruas de Nampula, após o que se encontraram vários cadáveres sangrados de pessoas e animais.105
Alegações de ataques de vampiros varreram o país africano do Malawi em finais de 2002 e inícios de 2003, com multidões apedrejando um indivíduo até à morte e atacando pelo menos outros quatro, incluindo o Governador Eric Chiwaya, baseados na crença que o governo estava em conluio com vampiros.106
Venda de recordações do Drácula emSighişoara, na Transilvânia
Na Europa, onde muito do folclore vampírico teve origem, o vampiro é considerado como um ser fictício, embora muitas comunidades tenham acolhido e acarinhado a criatura por motivos económicos. Em alguns casos, especialmente em pequenas localidades, a superstições sobre vampiros ainda estão bem enraizadas, e avistamentos e relatos sobre ataques de vampiros ocorrem frequentemente. Na Roménia, em Fevereiro de 2004, muitos parentes de Toma Petre recearam que este se tivesse tornado num vampiro, e desenterraram o seu corpo, extraíram o coração, queimaram-no e misturaram as cinzas com água para que as pudessem beber.107
Em 2006, um professor de física da universidade da Flórida Central escreveu um artigo argumentando a impossibilidade matemática da existência de vampiros, baseado na progressão geométrica. De acordo com o artigo, se o primeiro vampiro tivesse aparecido a 1 de Janeiro de 1600, e se tivesse alimentado uma vez por mês (que é menos que o que é representado no cinema e no folclore), e se todas as vítimas se tornassem vampiros, em cerca de dois anos e meio toda a população humana existente à época ter-se-ia tornado vampira.108 O artigo não faz qualquer tentativa de resolver a questão da credibilidade do pressuposto que toda a vítima de um vampiro se transforma noutro vampiro.
vampirismo e o estilo de vida vampírico representam também uma parte relevante dos movimentos ocultistas actuais. O mito do vampiro, as suas qualidades magickas e sedutoras, e o arquétipo de predador, expressam um forte simbolismo que pode ser usado em técnicas que envolvam uso de ritual e de energia, e em magick, podendo mesmo ser adoptada como sistema espiritual.109 vampiro há séculos que faz parte da sociedade ocultista europeia, e também se difundiu na subcultura americana há já mais de uma década, com forte influência e mistura das estéticas neogóticas.110

Nome colectivo[editar | editar código-fonte]

Ásia: Lendas vampiristicas

Ásia

As modernas crenças vampíricas, enraizadas em folclore mais antigo, propagaram-se por toda a Ásia, desde as lendas das entidades maléficas do tipo ghoul encontradas no continente, aos seres vampíricos das ilhas do Sudoeste Asiático.
Ásia Meridional também desenvolveu as suas próprias lendas vampíricas. O Bhūta ou Prét é a alma de um homem que morreu de morte apressada. Esta vagueia pelas redondezas animando cadáveres à noite, e atacando os vivos, muito ao modo doghoul.88 No norte da Índia existe o BrahmarākŞhasa, uma criatura vampírica com a cabeç rodeada por intestinos e uma caveira, de onde bebe sangue. A figura do Vetāla, presente nas lendas da Ásia Meridional, pode por vezes ser descrita como "vampiro"nota 2 .
Embora os vampiros marquem presença no cinema japonês desde o final dos anos 1950, o folclore que lhes está associado tem origem ocidental.89 No entanto, o Nukekubi, presente na cultura japonesa, é um ser cuja cabeça e pescoço separam-se do corpo para voar em redor em busca de presas humanas durante a noite.90
Lendas de seres femininos semelhantes a vampiros que são capazes de separar partes superiores do seu corpo também ocorrem nasFilipinasMalásia e Indonésia. Existem dois tipos principais de criaturas vampíricas nas Filipinas: o mandurugo("chupador de sangue") do povo Tagalog, e o manananggal ("auto-segmentador") dos Visayan. O mandurugo é uma variedade deaswang que toma a forma de uma atraente jovem durante o dia, e à noite ganha asas e uma longa e oca língua semelhante a um fio. A língua é usada para chupar o sangue das vítimas durante o sono. O manananggal é descrito como uma bela mulher mais velha que o mandurugo, capaz de cortar a parte superior do seu torso de modo a voar durante a noite com enormes asas semelhantes às dos morcegos, depredando mulheres grávidas durante o sono em suas casas sem que estas se apercebam. Usa uma língua alongada em forma de tromba para sugar os fetosdessas mulheres grávidas. Também gostam de comer as entranhas (em especial o coração e o fígado) e a fleuma de pessoas doentes.91

Estátua no exterior do Templo da Floresta dos Macacos em Ubud, no Bali,Indonésia
Penanggalan malaio pode ser uma bela mulher tanto velha como nova que obteve a sua beleza através do uso activo de magia negra ou outros meios sobrenaturais, e geralmente descrita no folclore local como sendo de natureza sombria ou demoníaca. Esta consegue separar a cabeça com as suas presas aguçadas, a qual esvoaça pelas redondezas durante a noite em busca de sangue, tipicamente de mulheres grávidas.92 Os malaios costumam pendurar jeruju(cardos) à volta das portas e janelas das casas, na esperança que o Penanggalan não entre por aí com medo de ficar com os intestinos presos aos espinhos.93 O Leyak é um ser semelhante do folclore balinês.94 UmKuntilanak ou Matianak na Indonésia,95 ou Pontianak ouLangsuir na Malásia,96 é uma mulher que morreu durante a infância e tornou-se morta-viva, em busca de vingança e aterrorizando as aldeias. Toma a forma de uma atraente mulher com longo cabelo preto que esconde um buraco na parte posterior do pescoço, o qual usa para sugar o sangue das crianças. O preenchimento desse buraco com o seu próprio cabelo terá o efeito de afasta-la. Colocavam-se contas de vidro na boca dos cadáveres, e ovos debaixo de cada axila, e agulhas nas palmas das mãos, por forma a impedir que se tornassem num langsuir.97
Jiang Shi (chinês tradicional: 僵屍 or 殭屍, chinês simplificado: 僵尸, pinyinjiāngshī; literalmente "cadáver rígido"), muitas vezes chamados de "vampiros chineses" pelos ocidentais, são cadáveres reanimados que vagueiam pelas redondezas, matando criaturas vivas para lhes extrair a essência vital (). Dizem-se que são criados quando a alma de alguém (魄 ) não consegue abandonar o corpo do defunto.98 No entanto, há quem coloque em causa a comparação entre jiang shi e vampiros, uam vez que osjiang shi são geralmente criaturas irracionais sem vontade própria.99 uma característica pouco habitual deste monstro é ter a pele coberta por uma pelagem branco-esverdeada, possivelmente derivada de fungos ou musgocrescendo sobre os cadáveres.100

Américas: lendas vampirísticas

Américas[editar | editar código-fonte]

Loogaroo é um exemplo de como uma crença vampírica pode ser o resultado de uma combinação de crenças, no caso uma mistura de influências francesas e de Vodu africano, ou voodoo. O termo Loogaroo possivelmente deriva do francês loup-garou, que significa "lobisomem", e é comum na cultura das Ilhas Maurícias. No entanto, as histórias sobre o Loogaroo estão difundidas pelas ilhas do Caribe e pela Luisiana, nos Estados Unidos.84 A Soucouyant da Trinidad, e a Tunda e Patasola do folclore Colombiano, são monstros femininos de tradição semelhante, enquanto que os Mapuches do Chile meridional têm a cobra sugadora de sangue conhecida como Peuchen.85 Aloe vera pendurado do avesso detrás ou perto de uma porta é tido como eficaz no afastamento de seres vampíricos nas superstições sul americanas.37 A mitologia asteca possui lendas sobre os Cihuateteo, espíritos com cara de esqueleto pertencentes àqueles que morreram à nascença, que raptavam crianças e tinham relações sexuais com os vivos, levando-os à loucura.33
Kit para caçar vampiros, fabricado emBoston, cerca de 1840
Durante o final do século XVIII e no XIX, a crença em vampiros estava largamente difundida em partes da Nova Inglaterra, em particular em Rhode Island e no Connecticut oriental. Existem muitos casos documentados de famílias que desenterraram os seus entes queridos e lhes removeram o coração, por acreditarem que o falecido era um vampiro responsável pelas doenças e mortes que afligiam a família, embora o termo "vampiro" nunca houvesse sido usado para descrever o morto. Acreditava-se que a doença fatal da tuberculose, ou "consumação", como era conhecida na época, era causada por visitas nocturnas de algum membro da família que houvesse morrido ele próprio de consumação.86 O caso de suspeita de vampirismo mais famoso, e de registo mais recente, foi o de Mercy Brown, que morreu aos 19 anos em Exeter, Rhode Island em 1892. O seu pai, assistido pelo médico da família, removeu-a da tumba dois meses após a sua morte, removeu-lhe o coração e queimou-o até ficar em cinza.87

África: lendas vampirísticas

África[editar | editar código-fonte]

Em diversas regiões de África é possível encontrar lendas e tradições populares de seres com características vampíricas: NaÁfrica Ocidental o povo Axânti fala de um ser de dentes de ferro que vive nas árvores, o asanbosam,81 e os Ewés do adze, que pode tomar a forma de um vaga-lume e caça crianças.82 A região do Cabo Oriental tem o impundulu, que pode tomar a forma de um grande pássaro com garras e é capaz de invocar raios e trovões, e o povo Betsileo de Madagáscar fala doramanga, um fora da lei ou vampiro vivente que bebe sangue e come as aparas das unhas dos nobres.3
Em Moçambique existe um mito persistente sobre "dragões chupasangue" que atacam a população durante a noite. Já em 1498, quando Vasco da Gama arribou ao porto de Quelimane, deparou-se com estranhos cultos, que perduraram até bem dentro do século XVII, de seres sobrenaturais que saiam durante a noite para se alimentarem do sangue de pessoas e animais, causando-lhes por vezes a morte.83

Folclore europeu medieval e posterior

Folclore europeu medieval e posterior

Muitos dos mitos que rodeiam os vampiros tiveram origem durante a Idade Média. No século XII os historiadores e cronistas ingleses Walter Map e William de Newburgh registaram episódios de mortos-vivos,29 71 embora sejam raros os registos de seres vampíricos nas lendas inglesas após esta data.72 O norueguês arcaico draugré outro exemplo de uma criatura morta-viva com semelhanças aos vampiros.73
Gravura alemã do século XV representando um vampiro ourevenant atacando um cristão.
Os vampiros propriamente ditos surgem com a grande divulgação do folclore da Europa Oriental no final do século XVII e início do século XVIII. Estas lendas formam a base da tradição vampírica que mais tarde penetrou na Alemanha e Inglaterra, onde foi posteriormente acrescentada e popularizada. Um dos primeiros registos de actividade vampírica ocorreu na região da Ístria, na actual Croácia, em 1672.74 Os registos locais referem o vampiro Giure Grando que habitava nessa região, na aldeia de Khring, perto de Tinjan, como causa de pânico entre os aldeões.75 Giure, que fora camponês, morreu em1656, mas os aldeões locais afirmavam que retornara dos mortos e começara a beber o sangue das pessoas, e a assediar sexualmente a sua viúva. O chefe da aldeia ordenou que uma estaca fosse enterrada no seu coração, mas quando este método não se revelou suficiente para mata-lo, usaram a decapitação com melhores resultados.76
Durante o século XVIII houve um frenesim de avistamentos de vampiros na Europa Oriental, sendo frequentes os estacamentos e escavações de sepulturas com o fim de identificar e matar mortos-vivos em potencial; até mesmo funcionários do governo envolveram-se na caça e estacamento de vampiros.77 Apesar de vulgarmente chamado de Iluminismo, durante o qual muitas lendas e mitos populares foram debelados, a crença em vampiros cresceu dramaticamente nesta época, resultando numa histeria colectiva que afectou a maioria da Europa.29 O pânico teve início num surto de alegados ataques de vampiros naPrússia Oriental em 1721 e na Monarquia de Habsburgo de 1725 a 1734, que se propagou a outras localidades. Dois casos famosos de vampirismo, os primeiros a serem oficialmente registados, envolveram os corpos de Pedro Plogojowitz e Arnold Paole, da Sérvia. Plogojowitz era tido como tendo morrido aos 62 anos, mas alegadamente voltou depois de morto para pedir comida ao filho. Quando o filho recusou, foi encontrado morto no dia seguinte. Plogojowitz supostamente voltou e atacou alguns vizinhos, os quais morreram por perda de sangue.77 No segundo caso, Paole, um antigo soldado tornado camponês, o qual alegadamente fora atacado por um vampiro alguns anos antes, morreu na ceifa do feno. Após a sua morte começaram a morrer pessoas das redondezas, e acreditava-se largamente que Paole tinha retornado dos mortos para depredar os antigos vizinhos.78 Outra lenda sérvia famosa que envolvia vampiros girava em torno de um certoSava Savanović que vivia numa azenha, matando os moleiros e bebendo o seu sangue. Este personagem foi mais tarde usado num conto escrito pelo escritor sérvio Milovan Glišić, e no filme de terror sérvio de 1973 Leptirica, inspirado por essa história.
Ambos os incidentes estão bem documentados: funcionários do governo examinaram os corpos, escreveram relatórios oficiais, e publicaram livros divulgados por toda a Europa.78 A histeria, comummente referida como a "Controvérsia Vampírica do Século XVIII", causou furor durante uma geração. A questão foi exacerbada por epidemias rurais de alegados ataques vampíricos, sem dúvida causados pelo alto grau de superstição presente nas comunidades aldeãs, com habitantes locais desenterrando corpos e, em alguns casos, penetrando-os com estacas. Embora muitos estudiosos afirmassem nesta época que os vampiros não existiam, e atribuíssem estes registos a enterros prematuros ou raiva, asuperstição recrudesceu. Dom Augustine Calmet, um respeitado teólogo e estudioso francês, coligiu um exaustivo tratado em 1746, o qual era ambíguo no que respeitava à existência de vampiros. Calmet juntou uma série de registos de incidentes vampíricos; numerosos leitores, incluindo tanto um crítico Voltaire como vários demonologistas, que o apoiavam, interpretaram o tratado como postulando a existência de vampiros.79 No seuDicionário Filosófico, Voltaire escreveu:80